O Arquivo Histórico da Unidade de Gestão de Cultura (UGC) divulgou recentemente descobertas históricas sobre Jundiaí durante os períodos Colonial e Imperial. Os estudos estão sendo feitos a partir de um documento do final do século 18, que traz descobertas relevantes nos âmbitos demográfico, urbano e cultural de Jundiahy.
Os estudos têm como ponto de partida uma cópia microfilmada da “Lista Geral do Povo da Villa de Jundiahy de que he Capitão Mor Antonio Pedrozo de Moraes“, datada de 01 de julho de 1772. Esse documento foi identificado pela equipe de Jundiaí nos arquivos digitalizados do Arquivo Histórico Ultramarino, localizado em Lisboa, Portugal. As revelações desse arquivo foram feitas durante uma apresentação na programação do Mês do Patrimônio Histórico e Cultural de Jundiaí, que aconteceu em agosto.
Dentre as informações levantadas pela equipe do Arquivo Histórico a partir do documento de 48 páginas, consta a presença de mulheres solteiras e viúvas dedicadas à cerâmica, evidenciando as teorias sobre a ascendência indígena, além de dados como a população estimada de Jundiahy em 1772, com aproximadamente 2.100 habitantes, distribuídos em cerca de 387 residências, em um território de 2,1 mil quilômetros quadrados, que abrangia as regiões onde hoje estão Campinas, Itupeva, Itatiba, Louveira, Vinhedo, Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista e adjacências.
Há inclusive uma lista com o número de pessoas que moravam em cada casa, incluindo os escravos. Essa lista representa um documento inédito para a historiografia de Jundiaí, cujos dados estão sendo cruzados com registros populacionais, como os censos da época, e documentação local, como as Atas da Câmara. Além disso, estão sendo feitos estudos interdisciplinares em áreas como língua portuguesa, agricultura e sociedade.
Os estudos também revelam uma predominância de residentes da região central de Jundiaí envolvidos em serviços, como sapateiros, ferreiros e até mesmo um cabeleireiro. Quanto à agricultura, antes das monoculturas do café e da cana-de-açúcar, a vida camponesa na Vila era marcada pela produção de milho, seguida por feijão, algodão, amendoim, arroz e tabaco, com uma presença incipiente da cana-de-açúcar, o que refuta a ideia de que houvesse engenhos na região naquela época.
O cruzamento de dados da “Lista” com outros documentos promete trazer mais revelações sobre a vida cotidiana da Vila de Jundiaí. A Vila era dividida administrativamente em esquadras militares, e os civis reservistas podiam ser convocados a qualquer momento por planos de chamadas da Coroa. Um morador identificado anos mais tarde desertou da missão quando a Espanha invadiu a Ilha de Santa Catarina (1777), e seus pais foram presos como parte da punição até que ele se apresentasse.
Entre os habitantes da região central da Vila, destaca-se Caetano José Gonçalves Couto, um escravizado livre de 23 anos. Além de ser o único na lista identificado como “dedicado à arte da Música e mestre de capela”, Caetano foi também um símbolo de resistência negra, sendo acusado de desobediência e insubordinação durante combates na região de São Bernardo.
Essas descobertas não apenas enriquecem a compreensão da história de Jundiaí, mas também destacam a importância de preservar e estudar os registros históricos para resgatar e valorizar as raízes culturais e sociais que moldaram a cidade ao longo dos séculos.
(com informações da Prefeitura de Jundiaí)